Exposición Le Consulat

Silêncio, vales e ecos


O Silêncio inclinado

Oye, hijo mío, el silencio.    
Es un silencio ondulado,  
un silencio,    
donde resbalan valles y ecos    
y que inclina los frentes  
para el suelo.


Frederico García Lorca


Esta exposição conjunta de dois fotógrafos catalães, apresenta corpos de trabalho individuais que encontram entre si vários momentos de afinidade, em particular a presença de um silêncio transversal às diversas obras que levou à inspiração do título no poema El Silencio de Frederico García Lorca.

Carmen Escudero Rubi e Miquel Llonch desenvolvem um trabalho de criação artística que privilegia a abordagem de determinadas áreas da fotografia como a fotografia de exterior, de paisagem em contextos da natureza e contextos urbanos e fotografia de retrato. A partir do real exploram narrativas poéticas e ficcionais, em que a aparente simplicidade do enquadramento se confronta com uma outra complexidade na composição final. Estas características comuns que permitem a junção dos artistas numa mesma exposição, estabelecem também um paralelo que acentua a identidade e a respectiva diferença da linguagem conceptual e formal de cada artista.


Carmen Escudero Rubi reúne nesta mostra obras de diferentes séries de trabalho. Em “Paisajes imaginarios”, a artista trabalha a captação de imagens que revelam pormenores do real em ilusão óptica, num jogo de cromatismos onde a percepção é confundida e o entendimento perturbado pela unicidade da imagem.

Na série “Mar adentro”, a paisagem de natureza é apresentada em panoramas trabalhados na sua dimensão geométrica e em ecos de simetrias formais e espaciais. Os volumes e texturas do céu, da água, da terra, surgem em espelho e preenchem a totalidade da imagem absorvendo a linha do horizonte e a sensação de profundidade, transformando-a numa superfície frontal quase plana.

“Rostros de Africa” traz-nos a expressão da presença humana através das mulheres da localidade costeira de Tujereng, na Gambia. Este projecto teve por base o conceito do projecto “Fandema”, uma iniciativa de acção social, comunitária, de proporcionar educação básica e formação profissional a mulheres adultas que nunca tiveram acesso a instrução. Todavia, a artista foi confrontada com um incêndio que destruiu a escola na véspera da sua chegada ao local, expondo-a a um cenário totalmente diferente e inverso ao conceito do projecto inicial. O quadro de destruição e ruína resultam em fotografias com intensidade expressiva na dualidade de conflito entre presença e ausência. No vazio dos planos de interior, onde o nada enche o espaço, a presença está patente nos resquícios da letra manuscrita a giz no quadro da escola ou na Palmeira que surge em plano de fundo na perspectiva criada pelo recorte das janelas. Nos retratos com trajes elaborados e coloridos que afirmam a dignidade e força da presença das mulheres, sentem-se o vazio desolador da destruição, da suspensão do tempo e do espaço.


No conjunto de retratos em exposição, o autor transporta para os refúgios na natureza a figura humana. Fotografadas individualmente ou em pares, em planos médios ou fechados, as pessoas de diferentes faixas etárias e género são trabalhada numa estética pictórica que oscila entre a pose informal e a performance teatral. Os olhares dos pares nunca se cruzam, no entanto há um contacto físico que sugere a ligação entre os elementos e à vontade no ambiente em que se encontram.

Carmen e Miguel comungam de uma extrema acuidade na composição, valorizando o uso da perspectiva e de ponto ou planos de fuga, e explorando um cromatismo predominantemente suave, delicado, com variações de tons e sombras. Obras que partilham a beleza de um silêncio profundo.

A presente mostra inscreve-se no objectivo do Le Consulat em desenvolver um programa expositivo que destaque a apresentação de artistas emergentes, que não são conhecidos nem se encontram representados por galerias em Portugal, a par da valorização de um contexto geográfico dos países da Europa Sul Ocidental, nomeadamente França, Itália e Espanha, que partilham com Portugal maior afinidade cultural de origem mediterrânica, para além da ligação ao Brasil, dado que o espaço do Le Consulat foi, durante mais de um século, o Consulado do Brasil.


Adelaide Ginga